Do livro A Teoria do Discurso de Ernesto Laclau

Para Laclau o Abgrund de Heidegger sustenta que , no lugar do fundamento, há um abismo, ou seja,o abismo é o fundamento. Com isto, no entanto, não quer dizer que haja uma proliferação de diferenças ônticas, mas que o lugar do vazio do fundamento é um lugar em que são produzidos efeitos discursivos. Entre outras coisas, pode haver fundamentos parciais, pois os fundamentos últimos que o essencialismo clássico pressupunha como base de todo sistema teórico discursivo são simplesmente uma ilusão. Isto me lembra uma pergunta que alguém me fez em uma conferência: "se abandonarmos a noção de fundamento deixamos de ter pé"? Ao que respondi: "deixar de ter pé é importante, pois, desta maneira, aprendemos a nadar" .

No livro "A teoria do discruso de Ernesto Laclau - ensaios críticos e entrevistas" - logo na introdução temos essa reflexão: Observa-se a incorporação dos registros pós-estruturais e pós-fundacionais, questionando o realismo, o objetivismo e o determinismo na interpretação do social, bem como seguindo a preposição crítica de Laclau (1993) frente aos estudos que simplesmente realizam o reveso niilista da modernidade ao sabor da fluidez das diferenças desarticuladas. São cada vez mais valorizados estudos que operam com a subjetivação, objetivação. identificação, a fluidez dos processos de significação, a contigência, as estruturas desestruturadas, o vazio normativo, a relação incomensurável entre particular e universal, questionando as estruturas auto-explicativas, a normatividade fundacional, o sujeito centrado e os projetos políticos protagonizados por um sujeito privilegiado com direção pré-estabelecidade para a mudança social.